Por Christine Salomão, jornalista – diretora de conteúdo da ebdi. CIO: protagonista no processo de transformação digital.
O CIO se tornou o protagonista no processo de transformação digital das organizações. Sua atuação é crucial para as empresas se adaptarem às mudanças de mercado e ganharem vantagem competitiva. Afinal, para introduzir e implementar tecnologias inovadoras, o Chief Information Officer precisa ter uma visão estratégica da essência do negócio e ir além dos conhecimentos técnicos.
O olhar macro do CIO, além de minimizar os impactos gerados pela adoção de novas tecnologias, ajuda a identificar e adotar tendências do setor de atuação antes da concorrência. Mas para obter sucesso nessa jornada da transformação digital, ele precisa manter um bom relacionamento com todos os setores da organização e principalmente com o CEO.
Ter uma relação estreita com o CEO é importante porque a transformação digital não é apenas uma questão de tecnologia, pois as mudanças têm um impacto significativo na cultura organizacional das empresas. E os CIOs desempenham um papel fundamental na liderança da mudança cultural necessária para que a organização possa aproveitar ao máximo as oportunidades da transformação digital.
Isso porque a cultura organizacional é o conjunto de valores, crenças, práticas e comportamentos que guiam o modo como as pessoas trabalham em uma empresa. E a transformação digital pode mudar a cultura organizacional de várias maneiras, desde a adoção de novas formas de trabalho até a implementação de novos processos e a introdução de novos comportamentos e habilidades.
Transformação digital: cultura organizacional X IA
A cultura organizacional desempenha um papel fundamental na adoção e implementação da inteligência artificial (IA) nos negócios. A IA é uma tecnologia disruptiva que pode ter um impacto significativo nas operações, nos processos de trabalho e nas interações entre funcionários e clientes. Portanto, alinhar a cultura organizacional com a IA é essencial para maximizar seus benefícios e minimizar possíveis desafios.
Uma cultura organizacional saudável e receptiva à mudança é crucial para abraçar a IA de forma eficaz. Isso requer uma mentalidade aberta, flexibilidade e disposição para experimentar novas abordagens. As organizações devem estar dispostas a abandonar velhos paradigmas e adotar uma mentalidade de aprendizado contínuo, reconhecendo que a IA está transformando rapidamente a forma como os negócios são conduzidos.
A IA pode impulsionar a inovação, a eficiência e a automação, mas também pode gerar preocupações e desafios relacionados a questões éticas, mudanças no trabalho e privacidade dos dados. A cultura organizacional deve valorizar a transparência, a responsabilidade e a governança adequada da IA. Os líderes devem promover discussões abertas sobre os impactos da IA, envolvendo os funcionários e fornecendo treinamento adequado para ajudá-los a entender e lidar com as mudanças trazidas pela tecnologia.
Além disso, a cultura organizacional deve incentivar a colaboração e a interdisciplinaridade. A implementação da IA requer uma abordagem holística, envolvendo equipes de diferentes departamentos e áreas de especialização. A colaboração entre os profissionais de tecnologia, especialistas em dados, funcionários de negócios e líderes é essencial para aproveitar todo o potencial da IA nos negócios.
Uma cultura que valoriza a experimentação e a tolerância ao fracasso também é importante. Isso porque a IA envolve a exploração de novas tecnologias, algoritmos e modelos de negócios. E nem todas as iniciativas de IA serão bem-sucedidas. Por isso, a cultura organizacional deve incentivar a experimentação responsável, onde os erros são vistos como oportunidades de aprendizado e melhoria.
Impactos da transformação digital: escassez de talentos em TI
A escassez de talentos em TI é uma realidade enfrentada pela maior parte das organizações no Brasil e a tendência é que o problema cresça nos próximos anos. Pesquisa realizada pela Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) e de Tecnologias Digitais (Brasscom) sinalizou que as empresas de tecnologia irão demandar 800 mil talentos entre 2021 e 2025.
Mas, de acordo com o relatório, o Brasil forma cerca de 53 mil profissionais de tecnologia por ano, o que deve abrir um déficit de 532 mil pessoas para trabalhar na área. Além da falta de investimento em educação para a formação de mão de obra qualificada em tecnologia, muitos profissionais de TI no Brasil são atraídos por oportunidades no exterior, onde podem encontrar salários mais altos e melhores condições de trabalho. Uma oportunidade bastante atraente e rentável para quem trabalha na área.
Diante desse cenário, além de ser necessário um esforço conjunto do governo, das empresas e das instituições de ensino para melhorar a formação e capacitação de profissionais de TI, as companhias precisam investir pesado em programas de treinamento e desenvolvimento para seus colaboradores, pois essa é a melhor forma de ajudá-los a adquirir novas habilidades e conhecimentos.
Os CIOs também podem incentivar a experimentação e a possibilidade de falhas, permitindo que as pessoas desenvolvam novas ideias e aprendam com seus erros. Principalmente porque grande parte das empresas hoje tem obsessão por métricas, o que pode contribuir para uma cultura de pressão e estresse, onde os funcionários se sentem constantemente vigiados e avaliados apenas por números. E isso pode levar a uma falta de criatividade e inovação, já que a maioria das pessoas se concentra em atingir métricas ao invés de pensar em novas soluções.
Além disso, a diversidade é um fator crucial para o sucesso de uma empresa e para a promoção de uma sociedade mais justa e inclusiva. O que faz com que o novo CIO trabalhe ativamente para promover a inclusão de minorias não somente em sua equipe, mas em todas as áreas da empresa, oferecendo programas de capacitação, oportunidades de mentoria e recrutamento inclusivo.
Segundo estudo da McKinsey, “empresas da América Latina que adotam a diversidade tendem a superar outras empresas em práticas-chave de negócios como inovação e colaboração, e seus líderes são melhores em promover a confiança e o trabalho em equipe”.
O relatório também revela que empresas com foco em diversidade “costumam ter ambientes de trabalho mais felizes e uma melhor retenção de talentos”. Sem falar que os “funcionários têm maior probabilidade de ter mais liberdade, tanto em termos de sua identidade quanto de suas maneiras de trabalhar, o que provavelmente os estimula a participar e contribuir”. Principalmente hoje que as novas gerações buscam a felicidade no trabalho e não abrem mão de trabalhar com propósito.
Cultura de cibersegurança
Em 2030, segundo pesquisa da Mckinsey , “as empresas perderão cerca de $650 bilhões como resultado de paralisações de sistemas e falhas de segurança”. Por isso, a importância de se estabelecer uma cultura de cibersegurança nas companhias para identificar e gerenciar riscos cibernéticos. O que inclui a adoção de políticas e procedimentos de segurança robustos, a conscientização e treinamento dos funcionários em relação às ameaças cibernéticas, o uso de tecnologias de segurança adequadas e a implementação de medidas de resposta a incidentes.
Garantir a privacidade dos dados também é outro desafio para as empresas brasileiras. E os colaboradores precisam estar bem preparados para cumprir corretamente a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Em vigor desde setembro de 2020, a LGPD estabelece diretrizes sobre como as empresas devem coletar, armazenar, tratar e compartilhar dados pessoais de seus clientes, fornecedores e colaboradores. O objetivo é garantir a privacidade e a segurança desses dados, além de proteger os direitos dos titulares dessas informações.
Mas muitas empresas têm enfrentado dificuldades para cumprir a LGPD por várias razões:
- Falta de conhecimento: muitas empresas ainda não têm um conhecimento adequado sobre as disposições da LGPD e as obrigações que a lei impõe. Isso pode levar a erros na implementação de medidas de segurança e na coleta e tratamento de dados pessoais.
- Falta de recursos: a implementação de medidas de segurança e a adequação aos requisitos da LGPD pode ser um processo complexo e caro. Muitas empresas podem não ter recursos financeiros ou humanos suficientes para realizar essas tarefas adequadamente.
- Dificuldades tecnológicas: muitas empresas têm dificuldades em implementar tecnologias que permitem o armazenamento seguro e o tratamento adequado de dados pessoais. Isso pode levar a violações de dados e a penalidades sob a LGPD.
- Desafios culturais: algumas empresas podem enfrentar desafios culturais em relação à proteção de dados pessoais. Algumas culturas empresariais podem não enfatizar a importância da privacidade e da segurança de dados, o que pode dificultar a implementação de medidas de proteção.
- Falta de cooperação de fornecedores: as empresas que terceirizam serviços ou compartilham dados com fornecedores podem ter dificuldades em garantir que esses fornecedores também estejam em conformidade com a LGPD.
Como o CIO pode inserir a inovação e a adoção de novas tecnologias na cultura organizacional da empresa?
Estratégias que podem ajudar o CIO a inserir a inovação e a adoção de novas tecnologias na cultura organizacional da empresa, tornando a tecnologia um impulsionador de mudança e competitividade:
- Estabelecer uma visão clara: o CIO deve estabelecer uma visão clara de como a tecnologia pode ajudar a empresa a alcançar seus objetivos estratégicos. Isso deve ser comunicado de forma simples e objetiva para toda a organização.
- Identificar oportunidades: o CIO deve identificar oportunidades para a adoção de novas tecnologias que possam melhorar a eficiência operacional, a experiência do cliente ou a inovação nos produtos e serviços da empresa.
- Criar uma cultura de experimentação: o CIO deve incentivar uma cultura de experimentação, onde os funcionários possam testar e experimentar novas tecnologias sem medo de falhar. Isso pode ser feito por meio da criação de laboratórios de inovação, programas de hackathon ou workshops de design thinking.
- Promover a colaboração: o CIO deve promover a colaboração entre a área de TI e outras áreas da empresa. Isso pode ser feito por meio de programas de treinamento e capacitação, workshops e eventos que reúnam funcionários de diferentes áreas para discutir desafios e soluções.
- Investir em tecnologia adequada: o CIO deve investir em tecnologia adequada que possa suportar a visão estratégica da empresa. Isso pode incluir a adoção de plataformas de nuvem, automação de processos e inteligência artificial.
- Monitorar os resultados: o CIO deve monitorar os resultados da adoção de novas tecnologias e inovações, medindo o impacto na eficiência operacional, na experiência do cliente e na inovação. Isso ajudará a demonstrar o valor da tecnologia para a empresa e a aumentar a aceitação e adoção de novas tecnologias.
Tecnologias
Algumas das principais tecnologias adotadas hoje pelos CIOs:
- Computação em nuvem: a adoção de serviços em nuvem permite às empresas acessar recursos de tecnologia em um modelo de pagamento conforme o uso, sem a necessidade de investimentos significativos em infraestrutura. As opções de nuvem incluem SaaS (Software como Serviço), PaaS (Plataforma como Serviço) e IaaS (Infraestrutura como Serviço).
- Inteligência artificial e aprendizado de máquina: a IA e o aprendizado de máquina são cada vez mais adotados pelas empresas para melhorar a eficiência operacional, otimizar a cadeia de suprimentos, aumentar a produtividade e oferecer experiências personalizadas aos clientes.
- Internet das Coisas (IoT): permite que as empresas conectem dispositivos e sensores a redes e aplicativos, o que possibilita a coleta e análise de dados em tempo real. Uma forma de melhorar a eficiência operacional e a experiência do cliente.
- Automação de processos: a automação de processos permite às empresas automatizar tarefas manuais e repetitivas, melhorando a eficiência e reduzindo custos operacionais. Isso inclui a automação de processos de negócios, como atendimento ao cliente e gerenciamento de pedidos.
- Segurança cibernética: uma das principais preocupações dos CIOs e a adoção de tecnologias de segurança que são essenciais para proteger a empresa contra ameaças internas e externas.
- Blockchain: cada vez mais adotada pelas empresas para garantir a segurança e a integridade dos dados, bem como para permitir a execução de transações confiáveis e seguras.
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