“À medida que as forças de globalização e as transformações digital e social se estabelecem, a maneira como as empresas operam muda substancialmente. A começar que a área fiscal deixou de ser apenas uma questão de compliance. Tecnologias cognitivas e novos modelos digitais estão transformando a função da gestão tributária, que precisa aliar transparência à entrega de valor”. Essa é uma das conclusões do Estudo da Deloitte, intitulado: “Construindo a área tributária do futuro – hoje”.
Afinal, de acordo com o relatório, “a pressão para a área tributária se transformar é muito grande” e seus líderes precisam ter uma visão mais estratégica. Quanto mais em um país como o Brasil que a carga tributária é uma das mais altas do mundo.
“Empresas brasileiras gastam 1.501 horas por ano para preparar, declarar e pagar impostos. Na China, por exemplo, são 138 horas; Reino Unido 114 horas; Estados Unidos 175 horas”, afirma Filipe Resende do Amaral, gerente de planejamento tributário da CPFL, ao ministrar, na semana passada, palestra no Encontro Mastering Fiscal Journey, uma iniciativa da EBDI.
Além disso, acrescenta o executivo, “enfrentamos diversos desafios, como as constantes alterações legislativas; conflito entre normas tributárias e regulatórias; desenvolvimento e manutenção do conhecimento técnico; utilização da tecnologia; e possível reforma tributária”.
Desafios da área fiscal: equipe com conhecimento técnico e do negócio
E para lidar com tantos desafios, na visão de Amaral, é preciso criar estratégias assertivas que contemplem: uma equipe com conhecimento técnico e do negócio; interlocução com Fisco e Regulador; fortalecimento setorial; postura corporativa pró-ativa e propositiva; e investimento em automação.
Agora, não é fácil criar estratégias que gerem valor para a empresa sem correr riscos. E para mitigá-los, a gestão de riscos é fundamental. Isso porque precisamos saber como identificar, analisar, avaliar e monitorar possíveis incidentes ligados à informação de sua empresa, a fim de atingir os objetivos do negócio. Foi o que sinalizou Bruna Prado, Tax Manager da Kimberly-Clark, que também ministrou palestra no Mastering Fiscal Journey.
Segundo ela, “para cada risco identificado deve haver um tratamento. E todos os riscos devem ser mapeados e monitorados, bem como as ações alinhadas para cada um. Além disso, a análise deve trazer uma sugestão viável para o negócio”. A executiva salientou, ainda, “que a norma tributária deve ser interpretada com autonomia, sem que aspectos externos da empresa influenciem a sua hermenêutica”.
Foco nas pessoas
A área fiscal também precisa ser construída com foco nas habilidades das pessoas, pois são elas que geram vantagem competitiva para as empresas. Mas para colocar os colaboradores no centro dos negócios é necessário a quebra de hierarquias, troca de conhecimento, comunicação clara e propósito de vida alinhado ao da organização, pois é isso que os funcionários esperam hoje das organizações.
E com um time engajado, o fiscal e o tributário podem atuar como parceiro da empresa. “Precisamos ter pessoas certas no lugar certo”, ressalta Rodrigo Carvalho, gerente tributário da Accor, ao ministrar palestranoMastering Fiscal Journey. Segundo ele, também é importante investir em “novas tecnologias e manter proximidade com áreas operacionais e estratégicas. Além de ficar atento aos benefícios fiscais, jurisprudência e projetos de recuperação tributária.”
Isso porque organizações mutantes e evolutivas, que desafiam padrões formais, legal e da burocracia são as que, provavelmente, sobreviverão no futuro. Tanto que as empresas da chamada nova economia estão criando negócios impensáveis e jogando por terra os modelos mais tradicionais. E para obter sucesso nesta jornada, líderes da área fiscal e tributária terão que praticar a flexibilidade, além de possuírem uma visão mais estratégica do negócio.
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