Grande parte das empresas no Brasil não possui programas para gestão de risco em saúde dos colaboradores

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Ricardo Ramos e Nadia Doro*

Grande parte das empresas no Brasil não possui programas para gestão de risco em saúde dos colaboradores. Foi o que apontou a Pesquisa “Gestão de Saúde Corporativa”, conduzida pela Aliança para a Saúde Populacional (ASAP) em parceria com a Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH Brasil).

Das 704 companhias entrevistadas, 52% afirmaram não possuir programas para gestão de risco em saúde dos colaboradores, 18% tiveram correção anual acima de 15% nos custos em saúde e 34% acham que a saúde é considerada apenas como um custo obrigatório para que a empresa não fique em desvantagem frente aos concorrentes1.

Apesar de termos avançado em meio à pandemia com programas corporativos, principalmente relacionados à saúde mental, esses dados mostram a fragilidade da gestão de saúde no ambiente corporativo, com poucos processos, nenhuma integração e sem indicadores de resultados.

Essa dinâmica é um reflexo que alimenta o hábito brasileiro de lidar com a saúde de maneira reativa. O resultado disso é o aumento de doenças crônicas e desperdícios de recursos de saúde entre 20 e 40%, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS)2.

Gestão de risco em saúde: o que os gestores estão fazendo?

O volume de dados de saúde gerado nos últimos anos não tem precedentes e foi ampliado com a pandemia. Os números de teleatendimento, por exemplo, são grandes e continuam crescendo. Mas o que os gestores estão fazendo com essas informações?

A resposta é, infelizmente: muito pouco. A interoperabilidade de dados tem uma alta complexidade técnica, necessita de investimentos e está sob a égide da Lei Geral de Proteção de Dados. Mas, por outro lado, vale o investimento: ela contribui – e muito – para cuidar da saúde, e não tratar a doença.

Nesse processo, é possível cruzar contas médicas, prontuários eletrônicos, resultados de exames, relógios inteligentes, entre outras possibilidades, criando clusters de comportamentos para que as ações sejam as mais aderentes possíveis a cada pessoa ou grupo.

Com o uso da tecnologia e da integração de dados podemos, por exemplo, conhecer os riscos da população sob gestão e desenhar as linhas de atenção que esse público tem indicação para se submeter.

Essa jornada não é tão simples quanto parece. Saúde não é matemática e, sim, algo dinâmico que precisa de um olhar a cada mês, semana, dia e hora. Do contrário, poderemos oferecer ações assistenciais soltas, como uma colcha de retalhos que não entrega um programa de gestão de saúde efetivo. Mas, como conseguir tanta agilidade? A resposta está na capacidade de processar diferentes bases de dados. E, aqui, compartilho um case de sucesso.

Case de sucesso

Um dos clientes da Dasa Empresas do segmento de produtos de higiene e medicamentos passou a implantar duas soluções que melhoraram a experiência na gestão da saúde. A primeira delas, chamada de Gestão de Senhas, monitora, em tempo real, os pedidos de senhas para procedimentos de alta complexidade, alto custo e/ou de internações, e oferece uma segunda opinião médica e redefinição de prestador, buscando a melhor alternativa de tratamento durante a internação e no pós-alta hospitalar. Resultado? Economia de R$ 2 milhões do sinistro pago pela companhia.

Já outra solução direciona o beneficiário que usa demasiadamente o plano de saúde para um prestador que o acompanha para evitar que ele faça consultas desnecessárias. Nessa mesma companhia, foi monitorado que 300 beneficiários têm uma média de 20 consultas eletivas e 12 passagens no Pronto Atendimento ao ano. De acordo com a Agência Nacional de Saúde, os parâmetros recomendados são quatro consultas eletivas e uma passagem no pronto socorro no mesmo período. Ou seja: há muito espaço de melhora.

Esses dados são apenas um recorte do que um ecossistema de saúde inteligente, que a partir da interoperabilidade de dados, entrega mais valor para empresas, médicos, pacientes e colaboradores. Esse cuidado coordenado vem sendo debatido e defendido por entidades privadas e públicas em todo mundo, incluindo a Organização Mundial da Saúde (OMS), que fomenta a adequação da estrutura de atenção às demandas de saúde, tornando os sistemas de saúde cada vez mais democráticos e sustentáveis.

Conseguimos evitar a utilização desnecessária de recursos como Pronto Atendimento ou internações clínicas? É possível reduzir o tempo de absenteísmo ou afastamento dos colaboradores? Hoje, a resposta para ambas as perguntas é: sim.

*Ricardo Ramos é partner de gestão médica e tecnologia da Dasa Empresas, hub de soluções corporativas da Dasa, a maior rede de saúde integrada do Brasil.

*Nadia Doro é Gerente de Projetos e Processos em Saúde da Dasa Empresas.

Artigo publicado no Estadão, em 25 de março de 2022.

Referências:
1. ASAP, ABRH. Gestão de Saúde Corporativa. Realizada com 704 respondentes, entre janeiro e março de 2020. Empresas participantes: pequeno porte (38%), médio porte (25%) e grande porte (37%).
2. OMS. Relatório Mundial da Saúde – Financiamento dos Sistemas de Saúde: O Caminho para a Cobertura Universal. Disponível em: https://www.who.int/eportuguese/publications/WHR2010.pdf. Acesso em 01/12/2021

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