Por Cezar Taurion – IA na prática / Masterclass
As mudanças provocadas pela revolução tecnológica se aceleram a cada dia. Estas rápidas mudanças afetam ou afetarão, de forma significativa, todos os setores de negócio. Há meros 40 anos surgiu o PC e a Internet estava engatinhando. A World Wide Web é mais jovem ainda, com pouco mais de 30 anos. Em 2007, apareceu o iPhone e a internet foi para nossos bolsos.
Ao longo dessas poucas décadas vimos a chegada de várias ondas tecnológicas que se sobrepuseram, criando oportunidades para rupturas nos negócios e na TI, como Inteligência Artificial, Realidade Aumentada/Realidade Virtual, 5G, blockchain, Internet das Coisas, LCDP (Low-Code Development Platform) e Cloud Computing. É um desafio para os CIOs e, também para todos os C-levels. Como liderar sua empresa em um cenário onde a única certeza é a mudança contínua? Quais serão as próximas ondas e quando elas estarão sobre nós? O fluxo de inovações e transformações é inesgotável!
A pandemia acelerou de forma abrupta as mudanças. Projetos que estavam sendo planejados para três ou mais anos, tiveram que ser compulsoriamente implementados em poucas semanas. A pandemia, na verdade, trouxe o futuro para o presente. Hoje já está bem claro que a transformação digital não é mais uma questão de oportunidade ou escolha, mas imperativo.
IA na prática
Quanto mais tempo a empresa demorar para fazer sua transformação, mais irrelevante e marginalizada ficará. Hoje, as empresas precisam não apenas ser excelentes no seu setor ou setores de atuação, mas também em desenvolvimento de software.
Um recente estudo da McKinsey mostrou claramente que as empresas que se destacam na velocidade (e qualidade) do desenvolvimento dos softwares, que são essenciais para seu negócio, apresentam diferenças substanciais em termos de resultados financeiros, comparadas com às que não estão dando a devida atenção a essa questão.
Os executivos de negócio e de tecnologia devem entender estas transformações e seus impactos. Devem preparar suas organizações para sobreviverem e manterem relevância no mercado diante da chegada de novos entrantes e competidores, vindos de startups e de outros setores. Melhor ainda, se conseguirem ganhar vantagens competitivas ao assumirem riscos e se posicionarem como líderes na adoção das inovações, criando novas oportunidades de negócio.
Este contexto tem sido o tema de vários debates que coordeno com CIOs, que buscam levar aos seus CEOs a preocupação com estas mudanças. Muitos mostram plena consciência que uma conversa sobre tecnologia não chegará a lugar nenhum. O CEO não é um tecnólogo e, portanto, o discurso deve ser centrado nos impactos das tecnologias nos negócios e não na tecnologia em si.
Os CEOs devem ser sim, fluentes digitais, mas essa fluência não significa que ele ou ela precisa escrever código Python. Mas, uma liderança fluente em tecnologia é essencial para a organização se destacar com melhores desempenhos no cenário de negócios, bem como será ainda mais valiosa para ajudar a construir o futuro.
A tecnologia sozinha não transforma nenhuma empresa ou setor
A tecnologia é um meio que pode acelerar as transformações do negócio, mas ela sozinha não transforma nenhuma empresa ou setor.
Um fato indiscutível: a empresa deve buscar ser mais inovadora. Manter processos e modelos de negócio que fizeram muito sucesso até hoje, não dá nenhuma garantia que a empresa continuará sendo bem-sucedida.
Mesmo grandes corporações não resistirão às mudanças se não souberem identificar as ameaças e reagirem rapidamente. Se compararmos a lista da Fortune 500 de 1955 com a de 2017 veremos que apenas 60, ou pouco mais de 10%, permaneceram na lista. Empresas emblemáticas de setores inteiros que foram transformados desapareceram num piscar de olhos.
Um exemplo? A Tower Records, uma das grandes gravadoras do setor fonográfico teve seu melhor ano em receitas em 1999 e faliu em 2004! Aliás, o antigo setor fonográfico foi inteiramente disruptado por uma empresa de software, a Apple. A competição vem de todos os lados, e não mais apenas de seus competidores diretos.
A tecnologia está se disseminando e transformando empresas, e mesmo aquelas que se consideram distantes destas mudanças serão afetadas, mais cedo ou mais tarde. Olhar as tecnologias digitais como oportunidade de inovar, criar novos produtos e serviços é obrigatório para os CEOs que quiserem manter sua empresa competitiva nos próximos anos.
Este deve ser o primeiro ponto a ser abordado pelo CIO em sua conversa com seu CEO. Tecnologias digitais e o setor de TI devem ser vistos como alavancadores de novos negócios e não como meras ferramentas de melhoria operacional. Cada vez mais o negócio e a tecnologia se fundem em uma coisa só.
Três conceitos definem as funções de TI
Três conceitos passam a definir as funções das TI mais eficazes hoje: colaborativa e integrada à empresa em sua estratégia e operações; um modelo operacional de uso de recursos dinâmico, elástico e adaptável, que ofereça condições de atrair e reter talentos, e que utilize métodos e ferramentas ágeis para acelerar a inovação; e uma base tecnológica, com sistemas flexíveis e escaláveis, que acelerem os lançamentos de produtos, e, muito importante, seja à prova de futuro.
Para ser inovadora e ágil a empresa tem que ser ágil, elástica, eficiente, gerenciar custos e minimizar sua complexidade operacional. Por exemplo, um discurso sobre computação em nuvem não deve ser centrada em como a tecnologia funciona e o que é virtualização, mas como um modelo tecnológico que permitirá a empresa ser mais ágil, reduzir seus custos e minimizar a complexidade operacional.
Com a computação em nuvem, a TI pode dedicar seus preciosos e escassos recursos (humanos e tempo) não a questões de infraestrutura, que não geram valor para o “bottom line” dos resultados, mas à busca de novas oportunidades de negócios. Adotar a computação em nuvem é uma estratégia essencial para tornar a TI mais ágil e dedicada ao negócio.
Outro assunto a ser conversado com o CEO: a comoditização da tecnologia. O fato é que os clientes usam as mesmas tecnologias que as empresas e geralmente as usam até mesmo antes das empresas. Estão cada vez mais empoderados, acostumados a usar interfaces intuitivos e acessarem serviços como solicitar um carro (como um 99 ou Uber) a qualquer momento. Pedem comida pelo smartphone. O iFood, no Back Friday de 2020 atendeu a mais de 2,5 milhões de pedidos. Acessam seus bancos pelos seus smartphones e muitos destes bancos, os digitais, nem tem agências.
Por que então precisam enfrentar interfaces pouco intuitivos e restrições quanto ao uso dos serviços ofertados pelas demais empresas das quais são clientes? Portanto, usar mobilidade e desenvolver apps intuitivas nada mais é que atender uma exigência do mercado. Hoje ter um app já não é mais inovador, mas simples reação à demanda dos clientes. Estes são mais rápido e inovadores que as empresas. A pandemia nivelou todos em termos de adoção de apps. A diferença está na qualidade do app e nos serviços que ele embute.
Papel do CIO: usar a tecnologia como meio para aumentar a receita e lucratividade da empresa
Um erro muito comum que observei nas conversas é o discurso sobre Inteligência Artificial. Não é a tecnologia ou o fato que existe uma verdadeira explosão de dados que motiva o CEO a patrocinar projetos de IA, mas questões de negócio.
Por exemplo um CIO de um grupo universitário me disse que um dos seus problemas é a taxa de evasão. Um projeto que agradaria imensamente ao seu CEO é reduzir esta taxa. Ora, a universidade tem uma montanha de dados sobre seus alunos: perfil (local onde mora, idade, sexo e assim por diante), suas notas e frequência às aulas ao longo do tempo, se está ou não em dia com pagamento e por aí vai.
Analisando este grande volume de dados com algoritmos de Machine Learning pode-se identificar um padrão de evasão e preditivamente permitir a universidade usar esta informação para agir e evitar que o aluno vá embora. Este é o valor gerado pela análise de dados.
O CIO não estará falando de IA como um projeto de tecnologia, mas como meio para gerar valor para um problema real de negócio. Não existem projetos de IA, mas projetos de negócio que embutem IA como meio de criar um serviço inovador ou mais eficiente.
Os debates deixam claro que muitos dos CIOs estão antenados com os desafios, mas lhes falta um discurso mais focado em negócios. Os seus principais aliados sempre foram as empresas fornecedoras de tecnologia e muitas delas ainda são deficientes nos discursos de negócios. Abordam direto a tecnologia, exaltando as características funcionais de seus produtos, que é sua zona de conforto.
São, portanto, de pouca ajuda quando a questão é criar novas oportunidades de negócio ou mesmo resolver um problema que afeta a receita da empresa. https://ebdicorp.com.br/. Este deve ser o papel do CIO: usar a tecnologia como meio para aumentar a receita e lucratividade da empresa.
Esse papel deverá mudar significativamente nos próximos anos, assumindo a liderança da jornada de transformação digital. Sua influência teve um grande impulso com a pandemia, que obrigou as empresas a se digitalizarem de um dia para o outro. Depois de realizar o que muitos consideravam impossível, a TI e o CIO devem agora desviar sua atenção para a nova realidade: a recuperação da economia no pós-pandemia, em um mundo muito mais conectado e digital que antes.
A convergência e evolução exponencial da tecnologia, a digitalização e o surgimento de novos modelos de negócio, criam um novo e mais desafiador cenário onde as práticas e modelos clássicos de gestão e governança de TI já se mostram inadequados.
O novo CIO, um CIO estratégico, tem que estar inserido nas discussões e estratégias do negócio. Claramente a tecnologia faz e fará parte de cada processo, serviço ou produto fornecido pela sua companhia. O início desta transformação é ter uma nítida visão de futuro. Onde a empresa estará daqui a três anos? Com a evolução exponencial da tecnologia os próximos dois a três anos serão mudados tão radicalmente quanto a sociedade e as empresas mudaram nos últimos dez anos.
O que considero fundamental para o CIO que quer se tornar estratégico: definir claramente sua missão na organização, colocando-se como ativo participante da estratégia, agregando valor para o negócio. O seu discurso deve ser baseado em uma agenda de desafios que a empresa e o CEO têm pela frente e nela inserir as tecnologias que irão servir de ferramenta. Falar em IA ou entregar tablets aos funcionários será de pouca valia se estas propostas não forem solidamente embasadas em desafios e oportunidades que agreguem real valor para o negócio.
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Cezar Taurion é Sócio da Kick Ventures e VP de Estratégia e Inovação na Cia Técnica, mentor e investidor em startups. Conheça sua trajetória e como ele se tornou um dos maiores nomes em Tecnologia da Informação no Brasil. Leia aqui