Confira neste artigo os ensinamentos da NBA sobre a importância dos momentos de descompressão.
Este artigo foi escrito por Marcus Vinícius Martins, Executivo de contas para Gillette, Oral-B e Old Spice na Ketchum Brasil, especialmente para a ebdi.
NBA ensina importância dos momentos de descompressão
Em meio à pandemia global que vivemos, o retorno das ligas esportivas ao redor do mundo foi cercado por muitas controvérsias. Muitos protocolos confusos foram trabalhados e desrespeitados.
Os calendários comprimidos e esticados a todo momento, devido às notificações de contaminação de times inteiros. Até agora, a única liga à prova de COVID-19 é a NBA.
A melhor liga de basquete do mundo criou uma bolha para abrigar, na reta final de seu campeonato, quase duas mil pessoas entre jogadores, comissão técnica, executivos, juízes, veículos de cobertura…
Uma infinidade de profissionais está confinada no complexo ESPN Wide World of Sports, na Disney de Orlando.
A medida vai custar aproximadamente 1 bilhão de reais e, de acordo com o manual de 113 páginas, estão inclusos:
- Testes diários para todos os confinados;
- Obrigatoriedade de uso de máscaras em situações públicas;
- A opção de usar um “anel inteligente” (que mede as frequências cardíaca e respiratória, a temperatura, além de outras variáveis);
- Dispositivos que apitam caso as pessoas se aproximem mais de 1,80m fora das quadras;
Entre outras medidas para garantir a segurança dos envolvidos.
Você deve estar pensando, “exceto pela neura do COVID, deve ser um sonho ficar preso na Disney”, declarações de jogadores dizem que sim e não.
A tensão racial nos Estados Unidos levou alguns atletas a optarem por não jogar e a Florida notifica números recordes de contaminação todo dia.
Vários jogadores, inclusive, se contaminaram pré-bolha ao se juntarem ao movimento Black Lives Matter e protestarem lado a lado com cidadãos comuns.
A militância invadiu a quadra e a audiência do mundo inteiro pôde acompanha-los ajoelhando durante o hino e usando regatas com frases de protesto no lugar de seus nomes.
É nesse clima de tensão extra que os melhores jogadores do mundo entram na fase eliminatória do campeonato mais difícil de suas carreiras.
Atenção merecida à saúde mental
O basquete pode ser um esporte bastante divertido para assistir e, especialmente nesse momento, distrair-nos após um longo dia.
Entretanto, para LeBron James e companhia, é trabalho.
Imagine ficar enclausurado com seus colegas do escritório e escritórios de marcas concorrentes, sem poder sair do hotel, sem ver sua família e amigos por 3 meses em meio a tudo que estamos vivendo, competindo por um objetivo em comum.
Jaylen Brown, ala do Boston Celtics, declarou em uma entrevista coletiva que gostaria de chamar atenção das pessoas para problemas relacionados à saúde mental ansiedade e depressão:
“Muitas vezes, quando o jogo acaba, vários de nós querem sair e esquecer o basquete por um momento. Isso é impossível aqui”.
Infelizmente, ainda é muito comum as pessoas não darem atenção merecida à saúde mental.
Em tempos de tanta incerteza, as empresas devem criar cada vez mais espaços físicos e de tempo destinados à descompressão.
A limitação de deslocamento, preocupações com a saúde de nossos familiares, isolamento social e o temor pelo desemprego podem desestabilizar as pessoas.
Sendo assim, é importante que – enquanto ajudamos nossos clientes a vencerem nesse momento de transição – estejamos atentos ao ser humano.
Ainda segundo reportagem do Globo Esporte, as equipes foram incentivadas a levarem um profissional de saúde mental com seu grupo de viagem.
Se optarem por não fazê-lo, as equipes deverão disponibilizar compromissos de ‘telessaúde’, principalmente se “qualquer jogador experimentar sentimentos crescentes de ansiedade e estresse ao fazer a transição para o campus e se afastar dos membros da família”.
De todos os cuidados com a saúde desses atletas, esse deveria ser o que mais chama nossa atenção. Sua empresa oferece algo similar? Deveria.
Além do processo de humanização, reconheçamos dois aspectos óbvios: o colaborador com problemas psicológicos não vai entregar o esperado e todos estamos sujeitos a isso.
Medidas práticas no negócio
E tem as medidas práticas no negócio para que todos sejam responsáveis pela gestão de crise.
É necessário compartilhar responsabilidades, ter sabedoria no compartilhamento de informações e comunicação clara.
Na liderança, vai ser necessário ajustar os objetivos do time, fazer reuniões mais frequentes (e objetivas), estar mais próximo (mesmo que online), ser transparente e ter o cuidado de envolver nas tomadas de decisão, somente quem deveria estar envolvido – até para não gerar pânico com informações descontextualizadas
Contudo, o aspecto mais importante desse momento talvez seja o foco no resultado e não na ocupação. Medir ocupação não garante resultados.
Além de facilmente burláveis, medidas de ocupação tiram o foco das métricas de resultado.
O micro gerenciamento é um dos maiores vilões quando falamos de estresse no ambiente de trabalho, pois ele desmotiva e não garante a visibilidade daquilo que está sendo feito.
Uma boa saída para descomprimir podem ser os happy hours e cafés digitais, momentos que reúnam as pessoas, mas que não sejam destinados a falar de trabalho, mas para a descompressão.
Outra medida pode ser o ajuste de horário de acordo com o que for melhor para as pessoas, já que elas precisam cuidar de si mesmas, de seus filhos e de suas casas.
Desta forma, é preciso encontrar janelas de disponibilidade, sincronizando tarefas e permitindo que as pessoas se organizem.
Por fim, é preciso estar aberto ao sentimento das pessoas.
Entender como elas se sentem, como os diferentes aspectos desse momento as afetam e dar visibilidade aos temas – quando possível, não de maneira invasiva.
Não existe receita pronta, nem todo o investimento realizado pela NBA em um dos maiores e mais desejados resorts do mundo pode mitigar totalmente questões relativas à saúde mental.
Mas por fim, cabe o clichê: não importa qual o tamanho do seu negócio, ele é feito de pessoas e é preciso cuidar delas.