Na tranquila Águas de Lindóia, líderes de TI do setor financeiro protagonizam uma reflexão profunda sobre Inteligência Artificial, segurança digital, interoperabilidade e, sobretudo, o papel humano na transformação tecnológica das organizações.
O Brasil financeiro vive uma revolução silenciosa, porém irreversível. E a ebdi, ciente da urgência que paira sobre o setor, organizou a edição 2025 do SAB CIO Financial Services — um encontro de três dias que reuniu os principais nomes da tecnologia bancária para pensar, debater e, acima de tudo, construir o futuro das organizações sob uma ótica que vai além dos códigos: a do impacto humano.
No resort Bendito Cacao, em Águas de Lindóia, o que se viu não foi apenas mais um evento corporativo. Foi uma imersão no papel estratégico do CIO, nas fronteiras da Inteligência Artificial generativa e na responsabilidade que a liderança técnica carrega ao se tornar guardiã do valor, da ética e da segurança organizacional.
Confira todo o conteúdo apresentado ao longo destes 3 dias de imersão neste artigo, escrito por Ana Paula Soares – Productora de Contenido Latam.
Do Executor ao Estrategista: A Nova Face do CIO
Carlos Eduardo Adame, gerente de TI para a América Latina no Banco Caterpillar, abriu a imersão com um recado claro: o CIO não pode mais ser apenas um executor técnico. Ele deve se posicionar como estrategista, articulando tecnologia com valor de negócio. “A IA não necessariamente traz retorno imediato, mas seu impacto estratégico é profundo, principalmente na segurança e agilidade dos processos”, afirmou, ao citar o exemplo chileno de automação jurídica por IA.
Adame também abordou a rotatividade entre jovens talentos da tecnologia. “O home office quebrou vínculos. A geração mais nova precisa de propósito, aprendizado e autonomia — mas também de estrutura.” O desafio da liderança é, portanto, tanto técnico quanto geracional.
Open Finance e IA: A Personalização como Diferencial
No painel sobre Open Finance, mediado por Luiz Adolfo Gruppi (Laga), Paulo Rodrigues (Ticket) e Ítalo Santos (Neon) trouxeram a interoperabilidade como fronteira tecnológica e competitiva. Santos resumiu: “O Brasil é um dos países mais tecnológicos do setor bancário, mas estamos só no começo.”
A grande aposta está no uso de dados compartilhados para antecipar comportamentos e criar experiências personalizadas. E é aí que entra a IA — não como acessório, mas como pilar estrutural da nova era do relacionamento financeiro.
Casos Reais: De Jira Automatizado a Redações Instantâneas
Miller Augusto, CEO da IVY, e Edison Kalaf, da Opus, apresentaram aplicações práticas da IA que ultrapassam a ficção. Enquanto Miller detalhou como o Banco de Incentivo à Amazônia automatizou fluxos do Jira usando IA, Kalaf mostrou como a Broadcast hoje produz matérias em segundos com agentes inteligentes baseados em LLMs. “Tudo depende do contexto e da inteligência aplicada”, afirmou Kalaf.
Paulo Ruza, do Banco Carrefour, estimou em até 35% o aumento de eficiência com IA generativa. “Os dados são o combustível, mas é a IA que dirige o carro”, pontuou.
Agentes Inteligentes, Segurança e o Valor do Tempo
O segundo dia mergulhou na IA aplicada à produtividade e à segurança. Daniela dos Santos (Santander) revelou que processos complexos, como empréstimos com garantia, estão sendo redesenhados com agentes de IA. Já Marcelo Justino (Itaú Gestão de Ativos) compartilhou um projeto de IA generativa que transcreve reuniões e transforma conteúdo bruto em narrativa analítica. “Criamos agentes que sugerem melhorias. Isso é produtividade com inteligência”, disse.
No setor de seguros, Adriano Pinhal (Mapfre) foi direto: “A IA não veio para substituir. Mas quem não souber usá-la será substituído.”
E quando o tema foi cibersegurança, o alerta foi unânime: segurança não é freio — é o alicerce. “A TI viabiliza, mas quem assume o risco é a empresa”, afirmou Paulo Condutta (Ouribank).
Agentes Inteligentes, Segurança e o Valor do Tempo
O último dia trouxe uma das reflexões mais provocativas da imersão. Felipe Monteiro (C6 Bank) lembrou que o diferencial competitivo será a capacidade de fazer boas escolhas: “O tempo é nosso ativo mais precioso. Onde o investimos define nossa estratégia.”
Na plenária final, conduzida por Pablo Assis (ValeCard), emergiu uma questão-chave: como lidaremos quando a IA errar? A fala de Frank Fujisawa (Topaz) sintetizou o desafio: “Estamos delegando decisões humanas a sistemas. Mas a IA é falível — e essa falha será nossa responsabilidade.”
Casos discutidos mostraram que os principais riscos ainda são humanos. “O maior vazamento de dados da empresa não veio da tecnologia, mas de um funcionário mal-intencionado com uma senha. A fragilidade continua sendo o ser humano”, alertou Pablo.
Epílogo: A Liderança que Olha nos Olhos da Máquina
A edição 2025 do SAB CIO Financial Services foi mais do que uma agenda sobre tendências tecnológicas. Foi um chamado para que líderes assumam a responsabilidade pelo mundo que estão ajudando a construir. A IA não é neutra, tampouco inevitável. Ela reflete quem a programa, quem a treina, e — mais importante — quem a lidera.
Se existe uma certeza que o SAB CIO FS nos deixou é que o futuro da tecnologia será moldado não apenas por linhas de código, mas por decisões éticas, humanas e conscientes. E os CIOs presentes deixaram claro: estão prontos para esse protagonismo.