Quais serão os desafios do próximo governo? “A base para o sucesso do governo que assumir o país em 2023 passa por privilegiar critérios técnicos que garantam a qualidade das políticas a serem implementadas. E, no campo fiscal, de como gastar de forma melhor e mais sustentável. O que não exclui a necessidade de cortar gastos, especialmente após um ano em que o crescimento da atividade foi tão apoiado por políticas de estímulos e subsídios”, afirma a economista Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro FGV IBRE, ao ministrar palestra de abertura no Encontro SAB CFO, realizado pela EBDI, que aconteceu de 19 a 21 de outubro, no Mavsa Resort, em Cesário Lange, São Paulo.
Segundo ela, “sem espaço orçamentário, e com carga impositiva tributária alta, alguém terá que perder. E escolher quem será sempre foi algo difícil no Brasil, seja em governos de esquerda, seja em governos de direita”. A economista também citou a pandemia como uma lição para a próxima gestão, pois ficou clara a necessidade de se buscar um Estado mais eficaz, em todas as áreas, em todas as suas políticas, não só a econômica.
“Isso sob um contexto de muitas zonas de tensão esgarçadas – como a questão do reajuste de salário do funcionalismo, a relação com os estados depois das medidas de fixação de teto de alíquotas de ICMS para gasolina e energia, entre outras”, explica a executiva. E acrescenta: “Este ano, buscaram-se soluções mágicas, abrindo espaço para mais gastos, algo típico de ano eleitoral, como se houvesse respostas fáceis para problemas difíceis. Essa visão de ter licença para gastar e deixar para se consertar o estrago num segundo momento, infelizmente, é algo que em geral permeia todos os governos, ainda que em magnitude e contexto diferentes. O que intensifica a substituição do enfoque técnico pelo político, que apontei aqui como uma das questões a se mudar”.
Desafios do próximo governo: política fiscal
Portanto, na visão da economista, “começaremos 2023 com vários desafios. A começar pela mudança de direção da política fiscal, de estimulativa para mais contracionista. Porque, se ganhamos mais PIB em 2022 (estimativa de crescimento de 2,7% este ano, contra queda de 0,4% em 2023), foi por conta de mais gastos e questões específicas de saída da pandemia, que promoveram um choque de preços de commodities, uso da poupança acumulada, processo de reabertura pujante em serviços, além dos estímulos fiscais e a redução de impostos que explicam, em grande medida, este quadro”.
“Mas esse ganho veio com mais inflação. E está claro que o Banco Central não conseguirá conter a inflação sem uma mudança da direção fiscal. Ou terá que manter juros elevados por muito mais tempo”, adverte Silvia. “Vale lembrar que a inflação que hoje demanda cuidado, no caso brasileiro, acrescenta a economista, “não é inflação cheia – o IPCA, que vem desacelerando –, mas a inflação de núcleos, especialmente a de serviços”, explica a economista.
Outra coisa que vale a pena destacar, ressalta Silvia, “é que, diferentemente de outros momentos, hoje o Orçamento tem menos espaço para amortizar o impacto de políticas de estímulo, pois está mais capturado pelo Congresso. Portanto, será mais difícil aliviar o impacto dessa mudança de chave no campo fiscal, o que torna a decisão por uma política mais rígida também mais difícil.”
Para se aprofundar mais sobre os desafios do próximo presidente, leia a entrevista com a economista Silvia Matos na Revista Conjuntura Econômica. Clique aqui.