Qual a relação direta entre: velocidade de desenvolvimento de software pelas empresas e desempenho nos negócios?

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Por Cezar Taurion: desenvolvimento de software X desempenho nos negócios

Uma recente pesquisa da McKinsey mostrou de forma inequívoca que existe uma relação direta entre a velocidade de desenvolvimento de software pelas empresas e seu desempenho nos negócios, considerando métricas como valor das ações e lucratividade.

Esse padrão apareceu em diversos setores e não apenas na indústria de software. Nessa, por exemplo, as empresas de software do quartil superior, em termos de velocidade de desenvolvimento, viram a receita crescer quase duas vezes mais rápido do que outras empresas no mesmo período. Em serviços financeiros e varejo, as empresas do primeiro quartil registraram um crescimento positivo da receita, enquanto a receita média diminuiu para as empresas posicionadas nos outros quartis.

A explicação é óbvia. Com a tecnologia digital impulsionando tudo, desde a forma como uma empresa opera até os produtos e serviços que vende, as empresas em setores que vão do varejo à manufatura e serviços financeiros estão tendo que desenvolver cada vez mais rápido novos serviços, produtos e funcionalidades digitais. Portanto, hoje em mundo cada vez mais digital, além de dominar as nuances de seu setor, eles precisam se destacar de forma significativa, no desenvolvimento de software.

Desenvolvimento de software: um quarto da força de trabalho da Goldman Sachs Group

Em uma empresa financeira americana, a Goldman Sachs Group, os engenheiros de computação já representam cerca de um quarto da força de trabalho total.  No varejo, o desenvolvimento de software é a categoria de trabalho que mais cresce.  De fato, dos mais de 20 milhões de engenheiros de software em todo o mundo, estima-se que mais da metade trabalhem fora da indústria de tecnologia, e essa porcentagem está crescendo.

“Toda empresa será agora uma empresa de software”. É atualmente o mantra que todas as empresas, sejam de qual setor forem, falam em seguir, para se transformarem em empresas digitais. A pandemia acelerou em muito o processo, fazendo com que os planos de transformação digital, que ocorreriam nos próximos três a cinco anos fossem realizados em poucos meses.

Quem não tinha um e-commerce passou a ter. Quem já tinha, melhorou ele em muito e algumas empresas já começaram a se transformar em plataformas de múltiplos negócios adjacentes e complementares, se distanciando dos então limites de atuação que caracterizavam os antigos setores de indústria. Mas, entre falar em se tornar uma empresa digital e realmente se tornar uma, existe uma grande diferença. 

A mudança para o digital não requer apenas atualizar sua infraestrutura de TI e tecnologia, mas também transformar todo o seu modelo de negócios, se tornando, na prática, uma empresa de software. Mas, pegar uma empresa que sempre considerou sua TI operacional, com atuação subalterna e complementar ao seu negócio e, de um dia para outro inverter a lógica, passando a ser uma empresa digital, de software, é algo muito, mas muito difícil de fazer.   

Para muitas empresas é um grande desafio. Em muitas organizações, ainda existe uma área de TI conservadora, operacional, adotando métodos que já se tornaram obsoletos. Por incrível que pareça ainda existem muitas empresas que não entenderam e nem adotam de forma intensiva os métodos ágeis. Esta falta de compreensão do que é ser uma empresa ágil, fica claro quando vemos que existe muita fumaça e pouco fogo nos discursos de transformação digital. Qualquer empresa hoje se diz em processo de fazer uma transformação digital, mas poucas realmente estão fazendo de forma consistente.

Transformação digital: exige mudanças

A razão de muita conversa e pouca ação é simples: a transformação digital torna essencial a empresa ser ágil, elástica e adaptável e isso implica em mudar modelo de gestão, processos e a cultura organizacional. Não vemos isso acontecer com frequência. Vemos sim, empresas colocando tecnologias e mais tecnologias, mas ainda organizadas no modelo de gestão top-down, burocrático. Esse é um erro: a transformação digital não é apenas uma transformação tecnológica. A tecnologia é meio, não o fim.  Manter uma estrutura organizacional burocrática e adotar IA, blockchain, cloud e outras tecnologias trará resultados pífios.

Para essas o lançamento de um novo produto ou serviço digital ainda pode levar meses. E com isso perdem janelas de oportunidades de mercado, que serão aproveitadas por competidores mais ágeis. Janela de oportunidade de mercado não vive no vácuo. Se sua empresa não aproveitar, outra o fará.

Curiosamente, quando conversando com muitos CIOs observei que poucos líderes entendem realmente a experiência cotidiana do desenvolvedor e nem sempre conseguem compreender suas demandas.  Com isso acabam tendo dificuldades de priorizar os investimentos entre demandas tão amplas e diversificadas, pois não conseguem identificar quais seriam os melhores talentos para executar certas funções.

Além disso, observei, com espanto, que embora existam muitas boas ferramentas que automatizem e aceleram o processo de desenvolvimento, como as tecnologias low-code, apenas uma minoria dos executivos reconhece esse potencial e classificam essas ferramentas entre seus três principais habilitadores para aumentar a velocidade e produtividade do seu desenvolvimento de software. Muitos nem estão considerando essas ferramentas nos seus budgets de curto prazo.

Tecnologias low-code

Mas, as tecnologias low-code não estão passando desapercebidas pelos analistas de indústria. O Gartner, por exemplo, estima que o low-code será responsável por mais de 65% do desenvolvimento de aplicativos até 2024. Com plataformas low-code é possível construir softwares, em menor tempo, demandando pouca atividade de programação.

Ao acelerar o desenvolvimento de aplicativos, as abordagens de low-code podem ajudá-los a se mover mais rapidamente. Em meio a mudanças rápidas e grande incerteza, esse é um benefício que não pode e nem deve ser ignorado.

Aprendemos uma lição importante na pandemia global:  as empresas, na maioria dos setores da economia, que conseguiram oferecer um produto competitivo com uma boa experiência digital sobreviveram e, em muitos casos, prosperaram enquanto seus concorrentes tiveram desempenho inferior ou faliram. Isso é claramente uma chamada à ação para revisar estrategicamente como as empresas estão posicionadas para digitalizar ofertas em torno da experiência do cliente.

No cerne desse processo está a transformação digital e nela está o software. A compreensão do moderno desenvolvimento de software precisa ser clara e objetiva, para que as empresas adotem e se adaptem às mudanças inerentes à maneira como as pessoas trabalham, vivem, compram e experimentam os produtos e serviços. Isso demanda métodos ágeis, uma organização preparada para atuar de forma ágil e ferramental adequado.

Mas, não são apenas ferramentas que aumentam a produtividade. As organizações que permitem que as equipes de software experimentem, falhem e aprendam em um ambiente seguro obtêm resultados consistentemente melhores. Compartilhamento de conhecimento, melhoria contínua, mentalidade de liderança servidora (ou seja, gerentes que veem seu papel como capacitar suas equipes para o sucesso em vez de simplesmente supervisioná-los) e uma filosofia centrada no cliente estão todos correlacionados a um desempenho empresarial superior. Mas, de longe, o atributo cultural mais importante é a segurança psicológica – uma crença compartilhada de que assumir riscos na busca por soluções inovadoras de problemas é permitido e protegido.

Isso não é fácil. Um CIO me confidenciou que aprender a fracassar (e corrigir rapidamente o erro!) foi a parte mais difícil da transição da empresa para o mundo digital.

Na verdade, não esqueça que não são as empresas que fazem a transformação digital. São as pessoas que trabalham nelas. Essas são o cerne de qualquer mudança e os desenvolvedores e seus ambientes de trabalho e produtividade devem ser considerados estratégicos. Quanto mais veloz for seu processo de desenvolver software, mais inserida sua empresa estará em um mundo digital. Como sugestão recomendo a leitura do artigo “Why Software Is Eating the World” de Marc Andreessen e do estudo “Mercado de desenvolvedores de sistemas: passado, presente e futuro” para um maior aprofundamento desses tópicos.

Cezar Taurion é Sócio da Kick Ventures e VP de Estratégia e Inovação na Cia Técnica, mentor e investidor em startups. Conheça sua trajetória e como ele se tornou um dos maiores nomes em Tecnologia da Informação no Brasil. Leia aqui