SAB CEO 2023: o líder do futuro

SAB CEO 2023

Por Christine Salomão, jornalista – diretora de conteúdo da ebdi. SAB CEO 2023: o líder do futuro.

Em plena era digital, as organizações estão tendo que se reinventar para garantir a sobrevivência em um mercado em constante transformação. E dentro deste contexto, a visão do CEO é extremamente importante para potencializar a cultura de inovação, principalmente porque as empresas precisam focar no ser humano e não em produtos ou serviços se quiserem gerar vantagem competitiva.

E como se não bastassem os problemas enfrentados para acompanhar os avanços tecnológicos e a revolução do conhecimento, os líderes de hoje têm que criar estratégias para diminuir os impactos da economia global, “que não deve  crescer em 2023”. Foi o que sinalizou Luiz Rabi, economista da Serasa Experian, ao abrir o ciclo de palestras do Sab: CEO, que aconteceu de 1 a 3  de fevereiro, no Club Med Lake Paradise, em Mogi das Cruzes, São Paulo, uma iniciativa da ebdi.

“O mundo está passando por uma trajetória de desaceleração. A inflação subiu muito em vários países, principalmente por causa da guerra na Ucrânia e dos efeitos econômicos da pandemia nos últimos anos, o que fez com que os bancos centrais subissem as taxas de juros. Ou seja, um remédio amargo que eles utilizam para combater a inflação”, explica o economista.

De acordo com a última atualização do Fundo Monetário Internacional (FMI), comenta Rabi, “o crescimento global cairá para 2,9% em 2023, mas subirá para 3,1% em 2024. Somente os países emergentes, particularmente China e Índia, devem crescer em 2023”.

“A reabertura da China, após o abandono da política Covid Zero, deve permitir que o crescimento chinês seja de 5,2%, contra 4,4% previsto há três meses pelo FMI. E isso é bom para alguns setores no Brasil, como o agronegócio”, ressalta o economista. 

Agora, o cenário econômico brasileiro atual não é bom, cita o economista. Isso porque inflação alta faz crescer o número de consumidores inadimplentes, o que afeta o fluxo de caixa das empresas. “São cerca de 70 milhões de brasileiros com nome restrito atualmente”, informa Rabi.

Mas diante de tantos desafios, as empresas devem fechar os olhos para a macroeconomia e seguir em frente? “Onde existe desafios há oportunidades. O importante é ter planejamento estratégico e executar com flexibilidade. Estabelecendo relações de confiança com os colaboradores”, afirma Lídia Abdalla, CEO do Grupo Sabin, ao ministrar palestra sobre o tema: “Liderança e Inovação: lado a lado para o sucesso da companhia”.

Não é à toa que o Grupo Sabin se tornou um dos maiores players no setor de medicina diagnóstica do País, apesar da situação caótica do sistema de saúde nacional, que agravou ainda mais com a pandemia de Covid-19. “Nosso propósito é inspirar pessoas a cuidar de pessoas. Sabemos que a experiência de um funcionário é o resultado de suas expectativas, do ambiente, e o quanto isso impacta diretamente em seu engajamento e performance”, ressalta a executiva.

Afinal, as pessoas hoje não abrem mão de trabalhar com propósito, principalmente as novas gerações que buscam por empresas que fazem a diferença no mundo e, consequentemente em suas vidas. Por isso, “a criação de planos estruturados, humanização no trabalho, engajamento de causas e capacitação estão entre os itens que mais podem ajudar no processo de engajamento do colaborador”, afirma Dario Perez, CEO da Hyper, ao ministrar palestra no Encontro.

Segundo Perez, “pesquisa realizada pela USP mostrou que de cada 3 profissionais, 2 relataram que estão altamente propensos a deixarem seus trabalhos neste ano devido à falta de interação humana com os líderes.” Agora, o desafio dos próximos anos, adverte o executivo, “será gerar conexão em pessoas cada vez mais desconectadas.”

SAB CEO 2023: hiperautomação

Lucas Ribeiro, CEO da ROIT, nos fez refletir sobre como a hiperautomação permite o crescimento acelerado e a resiliência dos negócios ao identificar, verificar e automatizar rapidamente o maior número possível de processos. “Quanto tempo humano é gasto para conseguir comprar e pagar seus fornecedores?”, indaga o executivo ao ministrar palestra no Encontro.

“O norte-americano consegue fazer em 15 minutos o que nós fazemos em 1hora”, comenta Ribeiro. Além do fator tempo, a hiperautomação possibilita maior integração dos dados; segurança e eficiência nos processos; potencial de escala do negócio e mínima interação humana nas atividades. Agora, mesmo diante de tantas melhorarias, “a hierarquia corrompe a transformação digital. Muitos diretores e gerentes têm medo de perder poder ou de revelar incompetências ”, diz o executivo.    

Mas criar uma relação mais humanizada com os colaboradores frente às novas tecnologias não é uma tarefa fácil para as organizações. Por isso, o papel do CEO mudou muito nos últimos anos. “A começar que precisamos dar poder de voz aos colaboradores para que eles sintam que realmente fazem parte do negócio”, afirma André Prado, CEO da BBM Logística, ao ministrar palestra sobre: “Green Economy: o que o ESG trouxe de lição para o mercado”.

Segundo Prado, “as pessoas estão cada vez mais preocupadas com questões relacionadas à responsabilidade social e com a postura das empresas frente ao tema”. Com isso, a cobrança por ações de sustentabilidade tem se tornado maior, o que exige que as empresas ampliem suas perspectivas para além das métricas financeiras e passem a considerar seu impactos sociais e ambientais, o que gera vantagem competitiva. Sem falar que as novas gerações querem trabalhar em empresas que produzam valor para a sociedade, o que torna ESG um diferencial na retenção de talentos.

Isso porque a escassez de talentos é um dos grandes problemas enfrentados pelos líderes na era digital. “E para atrair executivos de alta performance, as empresas têm que construir relacionamentos de confiança e interdependência com seus colaboradores, para engajá-los via propósito, num esforço coletivo que garanta sinergia”, afirma Fernando Duarte Menezes, CEO da Selfit Academias, ao apresentar o case de sucesso da rede fitness, que se tornou uma das principais da América Latina por ter como foco o ser humano e não produtos ou serviços.

Novo CEO é muito mais flexível e aberto às mudanças

O analfabeto do século 21 não será aquele que não consegue ler e escrever, mas aquele que não consegue aprender, desaprender e reaprender”, afirmou o escritor e futurista norte-americano Alvin Toffler. E os líderes são os que mais precisam ficar atentos a essa mensagem para que não se tornem verdadeiros dinossauros em meio a transformação digital. Não é à toa que o novo CEO é muito mais flexível e aberto às mudanças, principalmente em relação às novas formas de trabalho. Isso porque o engajamento entre os times se dará cada vez mais pelo propósito e as pessoas serão avaliadas por performance.

Diante disso, o desafio da liderança atualmente é redefinir o papel do escritório deixando claro o por que e quando as pessoas devem estar lá, tendo como foco resultados e não horas trabalhadas. Uma tarefa que exige do CEO mudanças profundas em sua forma de agir e enxergar o outro. Afinal, líderes adoram ter controle sobre tudo e todos.

Tanto que pesquisa elaborada pela Harvard University revela que para os gestores: “a performance dos profissionais que trabalham remotamente é, em geral, inferior dos que fazem o regime presencial”, afirma Filipe Barbosa, CEO da Bagaggio, ao abrir o segundo dia de palestras do Sab CEO. Mas será que os colaboradores não conseguem atuar melhor no online ou de forma híbrida devido às imposições de uma cultura organizacional resistente ao novo?

A Bagaggio, por exemplo, sofreu muito no início da pandemia com a retração nas vendas e, posteriormente, com a mudança de comportamento dos colaboradores devido às novas formas de trabalho, mas focou na gestão de pessoas para superar a crise. “Aprendemos que o híbrido alinha o melhor dos dois modelos. Agora, temos clareza de quem não pode fazer home office. Entre eles, júniores ou em fase de on boarding; colaboradores que dispersam facilmente fora do escritório e times com mudança de líder.”

Essa clareza de ações, na visão de Ana Paula Prado, CEO do Infojobs, é que ajuda a evitar as demissões voluntárias, que crescem muito no Brasil e no mundo,  “pois as pessoas hoje são protagonistas de suas carreiras”. Sem falar que “70% dos jovens de 18 a 24 anos preferem procurar outro emprego ao ter que voltar presencial ao escritório, segundo dados da ADP Research Institute ”, ressalta a executiva ao ministrar palestra no Encontro.

Mas o que essas novas gerações sinalizam é que um dos quesitos de sobrevivência das empresas hoje é entender o comportamento dos colaboradores. “E, por isso, as pessoas têm que estar no centro dos negócios. São elas que representam a marca, a empresa e que trabalham conosco para chegarmos aonde queremos chegar”, comenta Ana Paula.

Não é  à toa que a força de trabalho é o 3º tema mais relevante para os CEOs, segundo pesquisa da Gartner 2022. Agora, não adianta focar em pessoas e não ter um time de RH funcional. “É necessário criar uma equipe focada no futuro, orientada para a tecnologia, operacionalmente capaz e financeiramente disciplinada para executar a função de RH”, orienta Ana Paula.

Afinal, segundo artigo publicado na Você RH, “o papel do RH é diminuir vieses antigos e desenvolver líderes que tenham perspectiva de crescimento, sendo que a rota para o sucesso é o uso da tecnologia. Isso porque  a utilização de ferramentas como inteligência artificial, big data e analytics ajudam na identificação de talentos”, cita Daniel Barbon, Diretor de Sales & Marketing da Propay, ao ministrar palestra no Sab CEO.

Já o painel “Diversidade, equidade e inclusão como pilares de sucesso para a companhia”, comandado por Daniel Scuzzarello da Siemens, Fernando Duarte da Selfit e Yvette Batalha Leite da Sulgipe , nos fez refletir sobre como as pessoas têm identidades diferentes e características próprias, o que é um ganho para o crescimento dos negócios na era digital. Tanto que equipes multidisciplinares ganharão cada vez mais espaço dentro das empresas nos próximos anos.

Segundo pesquisa da McKinsey, “empresas da América Latina que adotam a diversidade tendem a superar outras empresas em práticas-chave de negócios como inovação e colaboração, e seus líderes são melhores em promover a confiança e o trabalho em equipe”. Além disso, ressaltam os executivos, a “prática da inclusão é extremamente necessária para atenuar as profundas desigualdades que temos no Brasil.”

No painel seguinte, os executivos Rodrigo Casado da Localfrio, Renato Velloso do Dr. Consulta, Leonardo Queiroz da Cogna e Marcelo Caio da Brinks falaram da importância de se desmitificar o uso de tecnologia e contaram suas dores para identificar o que de fato era essencial para o crescimento dos negócios. Segundo eles, em um momento de desenvolvimento tecnológico acelerado, é fundamental refletir profundamente sobre às novas ferramentas disponíveis e quais impactos elas causam nas empresas.

Principalmente porque o mercado hoje exige que os líderes tomem decisões rápidas quando o assunto é absorção de novas tecnologias visando driblar a concorrência acirrada. O que é um erro, pois a inovação tem que fazer parte da cultura, do dna da empresa.

A Philips, por exemplo, “por 130 anos têm melhorado a vida das pessoas com um fluxo constante de inovações pioneiras”, comenta Patrícia Frossard, Country Manager da Philips, ao apresentar, no Encontro, o case de sucesso dessa empresa centenária, cujas palavras de ordem são: “resiliência, protagonismo e representatividade.”

Inclusive, a resiliência é o que faz com que os líderes sigam em frente diante das dificuldades. “É o que nos faz continuar nadando para não afundar”, afirma o palestrante Carlos Ferreira, CEO da Nasajon, ao falar dos grandes desafios que o RH têm enfrentado em tempos de “novo normal”. Segundo ele, “o home office aumentou em 97% a satisfação dos funcionários e a onda de demissões de quem não quer abandonar o trabalho remoto só cresce.”

E encerrando o segundo dia de palestras do Sab CEO, Fernando Sores, CEO da Domino’s, contou como a rede de varejo alimentar cresceu a passos largos na pandemia. O segredo? Um modelo de negócios inovador voltado para atender às necessidades  e desejos dos clientes tendo a tecnologia como forte aliada.

Modelo de liderança: focado na colaboração

O ambiente de negócios está mudando e o conjunto de habilidades e comportamentos que contribuíram para que a maior parte dos líderes tivesse uma jornada de sucesso não são mais os mesmos. Isso porque tínhamos um modelo de liderança voltado para evitar erros e problemas. Ou seja, comando e controle eram palavras de ordem.

Já hoje, a liderança está mais focada na colaboração e os CEOs têm que estar abertos às diferentes visões de mundo para que possam criar equipes de alto desempenho. Peter Drucker, o pai da administração moderna, já vislumbrava esse caminho ao dizer que: “O desafio mais importante de nossos dias é o encerramento de uma época de continuidade – época em que cada passo fazia prever o passo seguinte – e o advento de uma era de descontinuidades, onde o imprevisível é o pão de cada dia para os homens, para as organizações e para a humanidade como sistema”.

Drucker nos adverte que “há uma nova realidade e novos desafios”, comenta  Yvette Batalha Leite, presidente da Sulgipe, ao ministrar palestra no terceiro e último dia do Sab CEO. Segundo ela, “Drucker nos traz a importância do autoquestionamento do indivíduo para que possa conhecer sua real eficiência no trabalho”. Tanto que as novas gerações não abrem mão de trabalhar com propósito e buscam por empresas que não se preocupam apenas com o lucro.

E ser o seu próprio gerente, na visão de Drucker, é o que nos ajuda a encontrar propósito no ofício. Mas para que os profissionais possam se autogerenciar  explica Yvette, “Drucker sugere um roteiro de cinco passados: 1) analisar as próprias forças; 2) analisar os próprios valores; 3) encontrar o lugar a que pertencem; 4) descobrir qual a contribuição que podem dar; 5) assumir responsabilidade por relacionar-se com chefes e outros profissionais no trabalho.”

E para encerrar o Sab CEO, o painel “Riscos, oportunidades e perspectivas: estratégias de crescimento”, comandado pelos executivos Ronnie Motta da Bombril; Marco Stefanini da Stefanini Group e Fernando Soares da Domino’s, debateu o quanto o cenário político e econômico nacional e internacional podem impactar no desempenho das empresas em 2023.

Afinal, diante de um cenário de recessão global e nacional como o que vivemos hoje, a maior parte dos empresários tem dúvidas sobre quais estratégias adotar para driblar a crise e continuar crescendo. Mas, de acordo com os executivos, toda crise também traz oportunidades e os líderes precisam identificar e implantar esses diferenciais competitivos.

“É preciso estar atento aos movimentos de mudança do mercado e não perder a oportunidade de inovar e crescer em momentos de crise”, ressaltam os executivos. Tanto que, segundo Pesquisa Global de Riscos 2022,  realizada pela PwC, “89% das empresas brasileiras quando pensam em gestão de riscos têm como prioridade acompanhar a velocidade das transformações digitais e de outras mudanças”.

Os dados ficam ainda mais evidentes quando a pesquisa, que ouviu mais de 3,5 mil líderes globais, incluindo o Brasil, aponta os investimentos em digitalização. “As empresas brasileiras aumentaram em 68% os recursos destinados à análise de dados, automação de processos e tecnologia para apoiar a detecção e o monitoramento de riscos. O percentual demonstra que o país segue uma tendência global, 74% das organizações participantes da pesquisa global aumentaram os investimentos nesta mesma área”, explica o relatório.

De acordo com a pesquisa, “os líderes brasileiros estão atentos a três aspectos da inovação para os quais têm priorizado os investimentos: automação de processos, apontada por 77% dos respondentes; análise de dados, indicada por 72% deles; e detecção e monitoramento de riscos, 70%. Nestes três aspectos, o Brasil está alinhado às preocupações das empresas globalmente.”

Para definir as melhores decisões diante dos desafios, informa o relatório, “há ainda um outro aspecto importante: incorporar o gerenciamento de riscos no planejamento estratégico dos projetos. Para 54% das empresas brasileiras, a preocupação em calcular riscos desde a primeira fase dos projetos resultou em melhores decisões de negócios e em resultados mais duradouros. Esta mesma percepção foi apontada por 39% das empresas no mundo.”

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