Você já aprendeu jogando?

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Por Kamila Mello – Desenvolvimento & Educação – da Rede Globo. Artigo: Você já aprendeu jogando?

Quando eu comecei a ensinar adultos por meio da gamificação, há mais de 10 anos, ouvia com frequência que jogo era coisa de criança. Você já reparou no quanto as crianças aprendem quando estão jogando?

De um tempo para cá, as empresas começaram a se habituar com o conceito de gamificação e, o que antes era uma metodologia considerada “infantilizada”, passou a ser uma estratégia eficaz na atração e engajamento de ações de aprendizagem.

Nem sempre aprender é divertido, mas como já disse Mihaly Csikszentmihalyi (criador do conceito de flow) “Quanto mais um trabalho se parecer com um jogo – com uma variedade de desafios apropriados, objetivos claros e feedback imediato – mais prazeroso este será, independentemente do nível de desenvolvimento do colaborador.”

Com a expansão do conceito, virou moda gamificar. Cada dia que passa é mais comum que a gente se depare com soluções que tenham rankings, badges, avatares e premiações.

Existe uma grande diferença entre criar uma solução gamificada e usar recursos de gamificação em uma solução. Na primeira opção, você usa mecânica de jogos como estratégia de engajamento para um problema complexo. A segunda é mais frágil, pois se sustenta através do foco em recompensa.

“Quando as pessoas dizem ‘gamify’, o que elas realmente querem dizer é melhorar o design motivacional.” Jesse Schell

No meu trabalho com gamificação, a mecânica de jogos vem com o objetivo de engajar os participantes, ajudá-los a resolver desafios ou direcioná-los a um comportamento desejado nas atividades. Para isso, não é necessário que eles estejam literalmente jogando um jogo e sim, que eles estejam expostos a uma mecânica totalmente interativa onde eles sequer percebem que estão participando de uma ação de aprendizagem.

Mas como eu estruturo uma gamificação?

Em primeiro lugar, é necessário pensar na experiência do usuário. Eu utilizo o design thinking para me aproximar do problema que eu quero resolver, entender o contexto em que meu aprendiz está inserido, gerar ideias e testar a proposta por meio de um protótipo.

Gamificar é criar uma solução para um problema com uma estratégia que traga melhoria e promova bem-estar para as pessoas envolvidas.

Em termos práticos, a estruturação deve ser baseada nas seguintes premissas:

O que o jogador deve sentir? – pense na motivação das pessoas ao participar a sua ação de aprendizagem – o que eu posso criar para cativar e interessar essa pessoa?

O que o jogador deve fazer? – deixe claro o que o participante precisa executar dentro da gamificação. Ele precisa sentir a progressão do seu aprendizado. Quando mais ele interage com o jogo, mais aprende.

O que o jogador ganha? – É preciso deixar claro os ganhos do participante, tanto de aprendizado, quanto na “premiação”.

Além disso, é preciso pensar no seu sistema de engajamento. Para facilitar vale lembrar do seguinte acrônimo: SAPS

Status: é considerado o maior índice de engajamento, pois é um recurso social. É uma forma de um jogador se comparar com o outro com base nas conquistas que ele teve.

Access: o jogador ganha novos acessos de acordo com o desempenho que tem no jogo, através de uma mecânica de níveis. Por exemplo, no aplicativo do Mercado Livre, quando mais você compra, mais benefícios e descontos você tem acesso.

Power: o jogador ganha poderes que podem ser usados em momentos estratégicos. Esse recurso estimula competências como o foco e o pensamento analítico.

Stuff: Aqui entra premiação, ele é considerado o nível mais baixo de engajamento pois não envolve um propósito. Em algum momento “ganhar coisas” deixa de sustentar a vontade do jogador em estar ali.

Não é novidade que 70% da aprendizagem dos adultos acontece no hands-on e, por que não simular as atividades do dia a dia em um ambiente seguro, sustentado por uma mecânica de jogos? Se você procura uma metodologia que aumente a produtividade, desenvolva foco e determinação nos seus colaboradores e seja altamente engajadora, não tenha medo de jogar!  

Sugestões de leitura:

  • Reality Is Broken: Why Games Make Us Better and How They Can Change the World – Jane McGonigal / onde encontrar o livro: clique aqui
  • Actionable Gamification: Beyond Points, Badges, and Leaderboards – Yu-kai Chou / onde encontrar o livro: clique aqui
  • Gamification by Design: Implementing Game Mechanics in Web and Mobile Apps – Gabe Zichermann, Christopher Cunningham / onde encontrar o livro: clique aqui
  • For the Win: How Game Thinking Can Revolutionize Your Business – Kevin Werbach, Dan Hunter / onde encontrar o livro: clique aqui

Kamila Mello realizará palestra no Encontro Mind Move – RH Treinamento e Desenvolvimento. Para participar, clique aqui.  Vagas limitadas!