A armadilha do “novo normal”

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Mariana Pavarini, Gerente de Pesquisa e Inteligência de Mercado da Leroy Merlin nos contou quais suas percepções sobre o “novo normal”. Boa leitura!

Este artigo foi escrito por Mariana Pavarini, Gerente de Pesquisa e Inteligência de Mercado da Leroy Merlin, especialmente para a ebdi.

A armadilha do “novo normal”

Estamos em um momento ímpar de transformações e de rompimentos com o nosso passado, caminhando para o que chamam de “novo normal”.

Escrevo isso depois de três meses trabalhando literalmente todos os dias dentro casa e mais dois meses que minha filha nasceu e mal conhece o som de uma avenida ou a sensação de estar em um colo que não seja o dos pais. Ela que, curiosamente, já nasceu dentro de casa parecendo prever a situação atual.

É indiscutível que a pandemia, que já dura meses, vem transformando os hábitos e atitudes das pessoas.

Também é inegável que as empresas que se anteciparem aos movimentos dos consumidores e agirem com estratégias assertivas poderão nadar em um oceano azul.

O esforço intenso do ”novo normal”

Minha experiência na área de Pesquisa, entretanto, me diz que o esforço intenso que muitos profissionais e instituições têm feito para definir o “novo normal” pode representar um desperdício. E digo isso por duas razões principais:

01.

Primeiro, estamos em um cenário de muitas incertezas com fatores em plena mudança: 

Estrutura social, inovações tecnológicas, modelos mentais (preocupações, anseios e valores), paradigmas do mundo corporativo (novos modelos organizacionais), preocupação com o meio ambiente, configuração regional (como o movimento das pessoas das grandes metrópoles para cidades menores), política e, claro, o comportamento das pessoas, mais especificamente dos consumidores. 

As diferentes combinações desses aspectos resultam em uma infinidade de cenários futuros possíveis.

02.

A outra razão é, para mim, a mais importante e está bastante conectada com o meu dia a dia em Pesquisa.

A busca incessante por antever o futuro (e nadar no famoso oceano azul) pode fazer com que as empresas parem de olhar para o presente e de ouvir seus clientes.

É necessário ter claro quais as dores do consumidor atual, as limitações que o negócio ainda impõe no relacionamento com ele e estar junto nesse momento em que ele se transforma e vem com novas demandas. 

É encarar os desafios atuais com respostas ágeis (muitas vezes com soluções simples) e dialogar com os clientes, criando confiança e proximidade. 

A construção do que será o “novo normal”.

O exercício de um olhar macro, de forma estratégica, é fundamental pois dá direcionamento para as empresas, traz propósito e alinhamentos, estabelece prioridades e constrói história.

Mas se o foco for excessivamente nessa direção, pode-se cair na armadilha de não ter um olhar ao que está acontecendo (o mundo real, tático, prático), que pode ser o elo para a construção do que será o “novo normal”.

As dificuldades da Luiza ou do Otávio nesse novo contexto não fazem parte das pautas dos inúmeros relatórios e reports que vêm sendo divulgados a todo momento sobre os novos comportamentos, mas entender profundamente algumas de suas questões pode ser bastante relevante.

O que faz a Luiza não ter a mesma satisfação ao adquirir um celular pelo site ao invés da loja física? Por que a confiança do Otávio em determinadas marcas não é a mesma de antes? Quais os atributos que vem ganhando importância para Luiza e Otávio nas suas decisões de compra? Será que as transformações são tão óbvias para eles? Ou será que podemos ajudá-los a vencer as barreiras antes de pensar em um novíssimo plano estratégico?

E minha filha vai crescer nesse mundo de transformações… eu, como mãe, me pego cheio de dúvidas e expectativas: O que será importante para que ela seja feliz?

O que poderá lhe trazer oportunidades e experiências enriquecedoras? São tantas questões… Mas pensar em tudo isso agora pode me fazer perder alguns sorrisos, aprendizados e muitas descobertas. 

Afinal, tão importante quanto a chegada é o caminho percorrido e como dele desfrutamos.