A transformação digital nos meios de pagamento

Por Christine Salomão, jornalista – diretora de conteúdo da ebdi. A transformação digital nos meios de pagamento.

No cenário financeiro global, a transformação digital está redefinindo a maneira como realizamos transações e lidamos com o dinheiro no dia a dia. A revolução nos meios de pagamento, impulsionada pelos avanços da Inteligência Artificial (IA), está moldando uma era em que a inovação, a segurança, a inclusão e a busca pela excelência na experiência do cliente são pilares fundamentais. Afinal, a digitalização dos pagamentos, segundo a consultoria PwC, é um caminho sem volta: “até 2025, as transações sem dinheiro em espécie na América Latina devem aumentar mais de 52%”.

Uma das facetas mais visíveis dessa transformação é a ascensão dos pagamentos sem contato. Cartões equipados com tecnologia NFC (Near Field Communication) e dispositivos wearables, como relógios inteligentes, tornaram-se ferramentas cotidianas para consumidores modernos. A conveniência de pagar com um simples toque está remodelando a experiência do usuário, reduzindo o tempo de espera e eliminando a necessidade de lidar com dinheiro físico.

As criptomoedas, lideradas pelo Bitcoin e Ethereum, também têm desempenhado um papel crucial na revolução digital dos meios de pagamento. A tecnologia blockchain, que sustenta essas moedas digitais, oferece uma abordagem segura e transparente para as transações, promovendo a confiança do consumidor. Sem falar que a crescente aceitação de criptomoedas por grandes empresas e instituições financeiras sinaliza uma mudança significativa em direção a um sistema financeiro mais descentralizado.

Agora, a integração de inteligência artificial nos sistemas de pagamento está levando a uma personalização sem precedentes. Assistentes virtuais e algoritmos avançados analisam o comportamento de gastos, fornecendo recomendações personalizadas aos usuários. Além disso, o reconhecimento biométrico, como o facial e de impressões digitais, não apenas simplifica as transações, mas também fortalece a segurança, reduzindo as preocupações com fraudes.

Apesar dos benefícios, a transformação digital nos meios de pagamento não está isenta de desafios. A segurança cibernética tornou-se uma preocupação central, com o aumento das ameaças digitais. As instituições financeiras e empresas do setor estão intensificando seus esforços para garantir a proteção dos dados do consumidor e a integridade das transações.

Segundo pesquisa Payment Security Market Size & Share Analysis – Growth Trends & Forecasts (2023 – 2028), da Mordor Intelligence, “o mercado de segurança de pagamentos está projetado para crescer significativamente nos próximos anos, com uma taxa de crescimento anual de 15,44%. Isso levaria o tamanho desse mercado de US$ 23,48 bilhões em 2023 para US$ 48,14 bilhões em 2028”.

Entre os fatores que elevam a demanda por soluções de segurança de pagamento, a pesquisa destaca: “mudança para compras e transações online, o aumento de roubos de dados e fraudes, bem como a conscientização sobre segurança de pagamentos e conformidade com padrões”. 

Vale ressaltar também que, soluções de segurança de pagamento são extremamente importantes para a indústria financeira nacional, pois, segundo relatório divulgado pelo Fortiguard Labs, “a América Latina enfrentou uma onda massiva de tentativas de ciberataques, totalizando 63 bilhões de investidas durante o primeiro semestre de 2023. Sendo que dentre os países da região, o Brasil foi o mais impactado, alvo de um total de 23 bilhões de tentativas de ataques cibernéticos”.

Além disso, a necessidade de regulamentações adequadas torna-se evidente à medida que novos métodos de pagamento emergem. Governos e órgãos reguladores estão trabalhando para estabelecer estruturas que garantam a segurança e a equidade, ao mesmo tempo que permitem a inovação contínua.

“O Brasil está na vanguarda da inclusão financeira, graças à liderança do Banco Central do Brasil (BCB) em iniciativas que promovem novas tecnologias de pagamento, interoperabilidade, redução de custos e concorrência aberta. Os pagamentos com QR codeestão ajudando a alavancar as infraestruturas de pagamentos instantâneos, fornecendo acesso fácil e barato a pagamentos digitais, seja por meio de um dispositivo tradicional de POS (sigla em inglês para ponto de venda –  PDV) ou de um dispositivo móvel para comerciantes e consumidores”, afirma o Estudo da PwC, intitulado, “Pagamentos: o cenário a partir de 2025. Como caminhar entre a evolução e a revolução”.

O Pix, modelo de pagamento instantâneo estabelecido pelo BCB, é um sucesso absoluto”, ressalta o relatório. Além disso, “vimos surgir métodos de pagamentos quase instantâneos que usam os trilhos das redes de cartões e são operados por players digitais. Na prática, espera-se que os novos modelos impactem os meios de pagamentos tradicionais com DOC/TED, boleto bancário, cheque e até mesmo com cartões nos próximos cinco anos. Considerando essas infraestruturas e a existência de novos provedores totalmente baseados em nuvem, os bancos já estão reavaliando seus modelos e soluções financeiras.”

Já quanto aos novos marcos regulatórios, o Estudo aponta que:  “Modelos simplificados de licenças bancárias, como as Sociedades de Crédito Direto (SCDs) e Instituições de Pagamentos (IPs), trouxeram uma nova competição ao mercado. O Brasil observou a importante expansão das fintechs e, mais recentemente, uma elevada incursão de indústrias tradicionais, como varejistas e telecoms, na criação de empresas de serviços financeiros. Esse ambiente competitivo deve se tornar ainda mais disputado com a conclusão e o amadurecimento do Open Banking brasileiro, que é bastante abrangente, sobretudo quando comparado com outros modelos internacionais.”

As carteiras digitais também se destacam no relatório da PwC.  “Vários players  estão disputando participação nos pagamentos dos consumidores. Os bancos estatais lançaram carteiras digitais para pagar à população subsídios sociais e relacionados à pandemia de covid-19, além de promover descontos para seus clientes. Isso está ajudando a ampliar a adoção dos pagamentos digitais, especialmente entre pessoas sem experiência com bancos. Marketplaces como, por exemplo, o Mercado Livre, com o serviço “Mercado Pago”, e players digitais como o PicPay estão lançando seus próprios ecossistemas, nos quais comerciantes e indivíduos podem fazer negócios e suprir necessidades financeiras pessoais.”

À medida que novas tecnologias continuam a moldar o cenário financeiro, é imperativo que os esforços se concentrem não apenas na acessibilidade, mas também na educação e na criação de oportunidades igualitárias para todos os cidadãos. A convergência entre inovação tecnológica e inclusão financeira está pavimentando o caminho para um futuro financeiramente mais inclusivo e dinâmico em solo brasileiro.

Segundo informações do site oficial do Banco Central, “o BC busca promover a eficiência dos mercados financeiros e a inclusão financeira por meio da criação do Drex, cuja versão de varejo será provida por intermediário financeiro regulado. Na prática, a Plataforma Drex é um ecossistema de registro distribuído (em inglês Distributed Ledger Technology – DLT), no qual intermediários financeiros regulados converterão saldos de depósitos à vista e em moeda eletrônica em Drex, para que os seus clientes tenham o acesso a vários serviços financeiros inteligentes.”

O Real Digital Drex, cujo nome foi lançado em agosto (2023), faz parte da família do Pix, de acordo com o Banco Central, mas a solução não veio para substituir o Pix. De acordo com matéria publicada no InfoMoney, “O Drex é só uma nova forma de representação da moeda física e tem paridade com o real. Embora possa ser considerado uma espécie de ‘primo’ do Pix, por permitir transações instantâneas entre instituições financeiras diferentes, o Drex funcionará de maneira distinta, via DLT (blockchain), e tem um conceito mais amplo.”

Vale ressaltar que em um estudo da Universidade de Harvard, intitulado “Moedas digitais nacionais: o futuro do dinheiro?”, os pesquisadores colocam o Brasil entre os países mais avançados no desenvolvimento da moeda digital própria, o que será uma porta para a inclusão financeira.  Isso porque a CBDC (Central Bank Digital Currency – ou Moeda Digital Emitida por Banco Central) será, em um futuro bem próximo, a forma digital da moeda fiduciária de um país. E o Pix é citado no Estudo como um estágio intermediário para a construção da CBDC no Brasil.

Com as CBDCs , ao invés da impressão de notas de papel e da fabricação de moedas de metal, os bancos centrais só terão que se preocupar em emitir tokens eletrônicos, cujos valores serão garantidos justamente pela credibilidade atribuída ao próprio governo, já que todo o processo será coordenado pelo seu principal órgão regulador.

O BIS ( Bank for International Settlements), também conhecido como Banco Central dos Bancos Centrais, de acordo com o Estudo de Harvard, sinaliza que por intermédio das CBDCs será possível melhorar a liquidez permitindo aumentar a velocidade das transações.

O Data Mesh está desempenhando um papel significativo na revolução dos meios de pagamento. Ao adotar essa abordagem descentralizada para o gerenciamento de dados, várias melhorias e benefícios específicos podem ser observados:

Escalabilidade e desempenho:

A arquitetura distribuída do Data Mesh se alinha bem com a necessidade de escalabilidade na indústria de meios de pagamento. Isso permite lidar com grandes volumes de transações de forma eficiente, garantindo desempenho otimizado mesmo em picos de demanda.

Autonomia e agilidade:

Ao atribuir a responsabilidade pelos dados a diferentes domínios, a Data Mesh promove a autonomia das equipes envolvidas nos meios de pagamento. Isso possibilita uma resposta ágil às mudanças nas regulamentações, requisitos do mercado e inovações tecnológicas.

Integração e interoperabilidade:

A interoperabilidade entre sistemas de pagamento é essencial. A abordagem de Data Mesh facilita a integração de diferentes domínios, permitindo uma visão holística dos dados relacionados a transações financeiras. Isso contribui para uma experiência mais fluida e eficaz para os usuários.

Segurança e conformidade:

A descentralização dos dados pode ser vantajosa em termos de segurança. A implementação de práticas de segurança específicas em cada domínio pode contribuir para a proteção eficaz dos dados financeiros, enquanto assegura conformidade com as regulamentações do setor.

Inovação contínua:

Tratar dados como produtos em uma abordagem de Data Mesh estimula a inovação contínua nos meios de pagamento. Equipes especializadas podem iterar e introduzir melhorias sem depender de um único ponto central, acelerando o ritmo de desenvolvimento e inovação.

Adaptação eficiente de novas tecnologias:

A flexibilidade do Data Mesh permite a incorporação eficiente de novas tecnologias, como blockchain e inteligência artificial, que desempenham papéis crescentes na evolução dos meios de pagamento.

Algumas das principais tecnologias que estão revolucionando os métodos de pagamento:

  • Pagamentos móveis: com o aumento da penetração de smartphones, os pagamentos móveis tornaram-se onipresentes. Tecnologias como NFC (Near Field Communication) e aplicativos de pagamento permitem que os usuários realizem transações simplesmente aproximando seus dispositivos de um terminal compatível.
  • Pagamentos por reconhecimento facial: a biometria, em particular o reconhecimento facial, está sendo utilizada para autenticação em transações financeiras. Essa abordagem oferece uma camada adicional de segurança e agilidade, pois elimina a necessidade de cartões físicos ou senhas.
  • Internet das Coisas (IoT) e pagamentos conectados: dispositivos IoT estão sendo integrados aos sistemas de pagamento, possibilitando transações automáticas entre máquinas e dispositivos. Exemplos incluem geladeiras que reabastecem automaticamente itens essenciais ou carros que pagam automaticamente por serviços.
  • Inteligência Artificial (IA) e Machine Learning (ML): sistemas baseados em IA e ML são utilizados para analisar padrões de gastos, detectar fraudes e personalizar ofertas e recomendações para os usuários. Essas tecnologias contribuem para a eficiência e segurança dos meios de pagamento.
  • Pagamentos instantâneos: sistemas de pagamento instantâneo, muitas vezes suportados por infraestruturas governamentais, estão ganhando popularidade em todo o mundo. Esses sistemas permitem transferências de dinheiro em tempo real, 24 horas por dia, sete dias por semana.
  • Blockchain e criptomoedas: a tecnologia blockchain, por trás das criptomoedas como o Bitcoin e o Ethereum, está impactando o setor financeiro ao oferecer transações descentralizadas e seguras. A adoção gradual de criptomoedas como meio de pagamento amplia as opções disponíveis para os consumidores.
  • Carteiras digitais: as carteiras digitais consolidaram-se como uma alternativa popular aos métodos tradicionais. Empresas como Apple, Google e Samsung oferecem serviços que armazenam informações de cartões de crédito de forma segura, permitindo pagamentos rápidos e sem a necessidade de carregar fisicamente cartões.
  • Open Banking: a abertura de dados bancários, conhecida como Open Banking, facilita a integração de diferentes serviços financeiros. Isso permite que os consumidores acessem uma variedade de serviços por meio de uma única plataforma, simplificando e diversificando suas opções de pagamento.

Essas tecnologias não apenas simplificam as transações financeiras, mas também moldam a forma como as pessoas interagem com o dinheiro. A contínua inovação nesse campo promete um futuro onde os meios de pagamento se tornarão ainda mais integrados, seguros e adaptados às necessidades dinâmicas dos consumidores.

Proporcionar experiências positivas aos clientes atualmente é uma prioridade crucial para o crescimento e até mesmo sobrevivência das instituições financeiras. Mas para atingir esse objetivo, é essencial focar em diversos aspectos. A começar que as pessoas esperam realizar transações de forma fácil e eficiente, seja por meio de aplicativos intuitivos, sites de fácil navegação ou atendimento ágil, o que exige cada vez mais a simplificação de processos.

Além disso, os clientes desejam sentir que suas necessidades individuais são compreendidas e atendidas, o que torna a personalização uma estratégia eficaz. E nesse contexto, a inteligência artificial e o aprendizado de máquina tornam-se ferramentas valiosas, auxiliando as instituições financeiras a entenderem melhor o comportamento do cliente.

Já a transparência é outro ponto crucial para manter uma experiência positiva. Em um ambiente onde o acesso à informação é facilitado, os clientes esperam compreender claramente as taxas, os riscos e os termos associados aos produtos financeiros. Manter uma comunicação aberta e transparente, seja sobre políticas de privacidade ou termos de empréstimo, é fundamental para construir e manter a confiança do cliente.

Sem falar que a educação financeira também desempenha um papel vital na capacitação dos consumidores na era digital, pois faz com que eles tenham o conhecimento necessário para tomar decisões informadas. Recursos educacionais acessíveis, como tutoriais em vídeo, webinars e guias interativos, são estratégias eficazes para promover a compreensão e a autonomia financeira dos clientes.

Agora, vale sinalizar que as novas gerações estão moldando o futuro dos meios de pagamento. De acordo com um estudo da Global Data, “as gerações X, Y e Z afirmam claramente que considerações éticas, ecológicas e socialmente responsáveis influenciam sua escolha por produtos e serviços. Aproximadamente 26% dizem que essas considerações muitas vezes influenciam sua escolha e cerca de 19% dizem que sempre influenciam.”

As fintechs têm desempenhado um papel crucial na transformação dos meios de pagamento em todo o planeta. Estas startups financeiras, caracterizadas pela agilidade, inovação e utilização intensiva de tecnologia, têm introduzido uma série de avanços que redefinem a maneira como as transações financeiras são conduzidas.

Uma das contribuições mais notáveis das fintechs é a promoção da acessibilidade e inclusão financeira. Ao oferecer soluções de pagamento mais acessíveis, muitas vezes baseadas em aplicativos móveis e interfaces intuitivas, essas empresas têm permitido que um número maior de pessoas participe ativamente no sistema financeiro. Isso é particularmente evidente em regiões onde os serviços bancários tradicionais são limitados.

Além disso, as fintechs têm liderado a adoção de tecnologias emergentes, como blockchain e criptomoedas, que oferecem alternativas inovadoras aos métodos de pagamento convencionais. A descentralização proporcionada por essas tecnologias não apenas aumenta a eficiência das transações, mas também oferece maior segurança e transparência.

Outro aspecto crucial é a ênfase na experiência do usuário. As fintechs têm se esforçado para simplificar e aprimorar a jornada do cliente durante as transações, introduzindo interfaces mais amigáveis, processos de verificação simplificados e tempos de processamento mais rápidos. Esse foco na experiência do usuário tem impactado positivamente a aceitação e a adoção generalizada de novos métodos de pagamento.

A colaboração também se destaca como uma característica chave. Fintechs muitas vezes trabalham em parceria com outras empresas, incluindo instituições financeiras tradicionais, para criar ecossistemas financeiros mais robustos e interconectados. Essas colaborações têm resultado em soluções híbridas que combinam a segurança e estabilidade das instituições financeiras tradicionais com a inovação e flexibilidade das fintechs.

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