O papel da indústria no crescimento

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Por Claudio Conceição, editor-executivo da revista Conjuntura Econômica e editor-chefe do Blog da Conjuntura. Artigo – O papel da indústria no crescimento

A economia brasileira voltará a crescer de forma mais robusta esse ano? Infelizmente, todas as projeções indicam ao contrário. A equipe do Boletim Macro FGV IBRE estima um crescimento do PIB de 0,6%, havendo no mercado projeções mais pessimistas, como um crescimento negativo do PIB em 2022.

O economista Nelson Marconi, professor da FGV EASP, defende que o país não voltará a crescer enquanto a demanda por bens industriais continuar sendo atendida pelas importações. Como isso não muda de uma hora para outra, este ano nosso crescimento continuará muito baixo – a média das previsões não passa de um PIB crescendo minguados 0,5% sobre o ano passado.

Para Marconi, em artigo que será publicado na revista Conjuntura Econômica, “enquanto continuar sendo esse cenário predominante – expansão da demanda atendida fundamentalmente por importações – qualquer estímulo ao crescimento que impacte positivamente o comércio será efêmero pois não será transmitido à indústria. Uma estratégia de ampliação da demanda agregada baseada em aumento da renda e consumo, independentemente do julgamento sobre a sua conveniência, beneficiaria primordialmente outras economias mais que a nossa, caracterizando o que os economistas chamam de vazamento de demanda para o exterior, a exemplo do que ocorreu ao longo dos anos 2000 e na primeira metade dos anos 2010. Certamente teríamos crescido mais e estaríamos menos suscetíveis a crises se tivéssemos uma indústria com participação mais consolidada e diversificada tanto no mercado interno como no externo”.

O economista lembra, também, que uma retomada dos investimentos privados, por maior que seja o chamado “animal spirit” dos empresários, jargão que os economistas gostam de utilizar, “depende de um mínimo de estabilidade econômica e institucional e estamos longe disso. O investimento público, por sua vez, é a variável de ajuste no teto de gastos, portanto mesmo considerando que estamos em um ano eleitoral, não podemos esperar que haja uma recuperação destas despesas. E o cenário é agravado pela alta dos juros para combater uma inflação que não é de demanda, mas de oferta, e pela falta de perspectiva de equilíbrio fiscal a médio prazo”.

Para embasar seu argumento do chamado vazamento, Marconi ressalta que “após o tombo decorrente do início da pandemia, a desorganização das cadeias produtivas e logísticas criou oportunidades para a indústria local recuperar algum espaço em diversos setores. Um fato interessante a ressaltar é que, enquanto as importações de manufaturados caíram nos meses imediatamente após fevereiro de 2020, a redução observada nas exportações foi significativamente menor.

Papel da indústria X perspectivas

Ao que tudo indica, os produtores globais passaram a atender prioritariamente suas economias, mas os nossos produtores locais continuaram atendendo seus clientes externos ou buscaram ganhar espaço nesse cenário, sendo também auxiliados por uma desvalorização de nossa moeda. Como resultado, a indústria conseguiu se recuperar em compasso semelhante ao do comércio até o final de 2020”. A partir daí, as coisas mudam: “a evolução das importações ultrapassa a das exportações de bens manufaturados (sempre em comparação ao período pré-pandemia, isso é, fevereiro de 2020). Ao mesmo tempo, a recuperação da indústria, que vinha sendo superior à do comércio, entra em declínio, observando-se novamente o descolamento usual entre a evolução dos dois”.

Qual a razão que levou a esse descasamento entre o comércio e a indústria? Para Marconi, “uma das principais motivações parece residir na constatação de que o comércio varejista voltou a ser abastecido, assim como em ocasiões anteriores, pelos importados”. E finaliza: “para que ocorra uma expansão perene da indústria não basta câmbio no lugar, mas também uma estrutura tributária e custo do capital adequados, bem como a retomada de políticas de pesquisa, inovação e desenvolvimento, a modernização de nossa infraestrutura, políticas comerciais, de financiamento e suporte ao exportador e a estabilidade nas regras para quem produz e comercializa com outros países. Depois de mais de dez anos de apreciação cambial, é natural que os empresários tenham se adaptado a importar e não mais a exportar. Retomar o crescimento de nossa economia passa por desatar esse nó que foi se formando ao longo das últimas décadas”. Leia mais no Blog da Conjuntura Econômica: clique aqui

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